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Tim Cook diz que não é necessário se preocupar com o futuro dos Macs, mas os fatos mostram o contrário

Este artigo foi publicado há mais de 4 anos. Algumas informações podem estar desatualizadas e sem validade para os dias atuais.

Após ter anunciado apenas a segunda geração do MacBook com tela de 12 polegadas e os novos MacBooks Pro com Touch Bar em 2016, muitos usuários reclamaram na internet por conta da Apple ter esquecido os demais Macs. Porém, de acordo com uma declaração do próprio Tim Cook, presidente da Apple, a empresa não desistiu de seus computadores e já está trabalhando em novidades para o próximo ano.

Ironicamente, o Mac Pro e o Mac mini sequer aparecem mais em algumas imagens promocionais da Apple.

Em uma conversa com um funcionário da Apple obtida pelo site TechCrunch, Tim Cook tentou desmentir os boatos sobre o fim dos Macs, especialmente os modelos desktops — o Mac mini, iMac e Mac Pro. De acordo com o CEO, a empresa já tem planos para atualizar estes modelos em breve.

“Algumas pessoas da imprensa levantaram a questão sobre estarmos comprometidos com os desktops. Se houver alguma dúvida parecida em nossa equipe, deixe-me ser bem claro: nós temos ótimos desktops em nossos planos. Ninguém deveria se preocupar com isso.”

Cook ressaltou também a importância dos computadores de mesa para muitas pessoas, considerando principalmente o uso de uma tela maior e maior disponibilidade de conexões, além de suportarem mais memória e armazenamento interno. “Eles [os desktops] são muito importantes para algumas pessoas, em alguns casos até criticamente importantes.” disse Tim Cook.

Situação atual

Quem trabalha com os computadores da Apple, ou pelo menos acompanha as notícias relacionadas, sabe que vários modelos realmente foram abandonados pela companhia. O site americano MacRumors possui um guia de compras para os produtos da Apple, baseado no número de dias que se passaram após o lançamento da versão mais recente. Com exceção do novo MacBook Pro e do MacBook de 12″, que foram atualizados neste ano, todos os outros modelos se encontram com a recomendação “não comprar“.

Para se ter uma ideia, os iMacs vendidos atualmente foram anunciados em outubro de 2015, somando 434 dias sem um novo modelo considerando a data em que esta publicação foi escrita. O Mac mini está em uma situação pior, já que o modelo “mais recente” foi lançado em outubro de 2014 — um mês após o anúncio do iPhone 6 e do primeiro Apple Watch. Com isso, já são quase 800 dias sem uma atualização do computador.

O campeão de abandono, porém, é o Mac Pro. Em 2013, no mesmo dia em que a Apple anunciou o iOS 7 com o visual completamente diferente dos anteriores, Phil Schiller — que é o vice-presidente de marketing da empresa — subiu ao palco para mostrar também a nova geração do Mac Pro, agora com um design novo e mais compacto. Schiller chegou a usar a frase “Não conseguimos inovar mais? Minha bunda!” durante a apresentação. As vendas oficiais do computador começaram em dezembro do mesmo ano.

Três anos depois, somando quase 1100 dias, a Apple continua vendendo exatamente o mesmo Mac Pro de 2013, sem qualquer atualização mínima nos componentes internos do computador. Todos estes números, para o universo da tecnologia, são absurdos. Imagine só se a Apple resolvesse parar de lançar novos iPhones em 2013 e continuasse vendendo o iPhone 5s até então com preço de novo.

Briga entre equipes

A Bloomberg, conhecida por ter várias fontes na Apple, conversou recentemente com algumas pessoas da empresa para tentar entender melhor o que está acontecendo internamente para os Macs serem deixados de lado assim. Baseado no relato de alguns funcionários, o motivo principal seria uma briga entre as equipes de engenharia, design e marketing dos produtos.

A principal reclamação de alguns é que, com a unificação das equipes de hardware e software na Apple, todas as atenções se voltaram para os produtos que hoje dão mais lucro para a empresa: o iPhone, o iPad e, consequentemente, o iOS. Não há mais uma equipe dedicada aos Macs, e todos acabam deixando os computadores de lado para resolverem os problemas dos dispositivos móveis.

Um dos funcionários entrevistados comentou um caso envolvendo o lançamento dos novos MacBooks Pro com Touch Bar. De acordo com ele, que não quis se identificar, os engenheiros responsáveis pelo projeto chegaram a testar uma nova bateria desenhada especialmente para o interior da máquina, assim como no MacBook de 12″, para aumentar as horas de duração. As novas baterias, porém, falharam em um teste muito importante. Ao invés de atrasarem o lançamento, a Apple não quis perder as vendas de final de ano e exigiu que todos os engenheiros de outros setores contribuíssem para ao menos criar novas baterias no padrão antigo, permitindo assim que o computador fosse lançado em outubro.

Neste imprevisto, muitas pessoas que trabalhavam em outros projetos — como por exemplo em novos iMacs e outros desktops — tiveram que deixar tudo para focar apenas no erro do novo MacBook Pro, que foi a única novidade apresentada no último evento especial realizado pela Apple. O resultado foi que os novos modelos chegaram às lojas com baterias de menor capacidade e ainda com falta de otimização no sistema, que resultou em várias reclamações sobre o alto consumo de energia.

Há também desentendimentos com a equipe responsável pelo design dos produtos, liderada por Jony Ive. Semanalmente, a equipe do Mac costumava se reunir com Ive e seu time de design para apresentarem os protótipos de novos computadores. Essas reuniões praticamente deixaram de acontecer nos últimos meses, já que o time de design passa a maior parte do tempo ocupado com o iPhone e o iPad. Outro engenheiro da empresa relatou que tudo precisa ser feito primeiro para o iOS, só então acabam trabalhando no macOS.

Com cada vez menos autonomia, a equipe do Mac acaba cedendo várias coisas aos demais times, que tentam transformar os computadores em grandes iPhones, cada vez mais finos e com menos conexões. Para se ter uma ideia, outra fonte comentou que chegaram a testar protótipos do MacBook com o conector Lightning, porém optaram por usar USB-C no final. A equipe também teve que se ocupar em testar os novos MacBooks Pro em várias cores, incluindo dourado, porém desistiram da ideia após verem que o resultado não ficou como o esperado.

Em outra situação, a empresa chegou a desenvolver simultaneamente dois modelos diferentes do novo MacBook com tela de 12 polegadas, sendo um modelo mais parecido com o que foi lançado e outro com maior peso e espessura. Os engenheiros contam que ficaram perdidos, já que a equipe de design não se decidia sobre qual dos dois modelos iriam utilizar. Quando optaram pelo modelo mais fino, a equipe de engenharia teve que correr para adaptar os componentes ao espaço interno menor. A ideia da Apple era lançar o novo notebook em 2014, mas o MacBook de 12″ acabou sendo anunciado apenas no início de 2015.

Neste ano, alguns dos engenheiros sugeriram adicionar o sensor do Touch ID — leitor de impressões digitais — e uma segunda porta USB-C na segunda geração do MacBook de 12″, algo que certamente iria agradar alguns consumidores após reclamações do computador ter apenas uma única entrada. Por fim, a equipe de design e marketing da Apple decidiu que atualizaria apenas os componentes internos e lançaria uma nova versão na cor ouro rosa.

Por fim, o descaso com o Mac Pro parece ter também relação com a política. O novo design da máquina, com a parte externa em alumínio escuro e reflexivo, exigiu que a Apple criasse suas próprias ferramentas para montá-la. Toda a equipe teve que ser especialmente treinada para trabalhar na criação e fabricação das peças. Por fim, em meio às confusões sobre a Apple concentrar seus investimentos na China, a empresa optou por fabricar o novo Mac Pro nos Estados Unidos e agradar aos políticos. A mão de obra mais cara no país e a falta de ferramentas para agilizar o processo, que são utilizadas na China, acabaram dificultando a fabricação do computador, e a Apple agora não sabe o que fazer.

O futuro

Apesar do que diz o Tim Cook e qualquer executivo da Apple sobre o Mac ainda ser importante para eles, é notável que a empresa possui outras prioridades. De fato, todos os computadores da Apple juntos não representam mais de 15% de sua receita, enquanto o iPhone e o iPad somam mais de 70% dela. Provavelmente, destes menos de 15%, a maior parte ainda se trata de profissionais que resistem em usar os computadores, provavelmente porque ainda precisam deles — ou ao menos querem dar uma última chance. Profissionais que fizeram com que o Mac chegasse ao seu ápice e que foram esquecidos pela Apple anos depois.

Aliás, é irônico por parte da Apple ignorar o Mac e seus usuários profissionais, sendo que o iPhone e o iPad só contam hoje com milhões de aplicativos na App Store graças aos desenvolvedores. Pois é, ainda não existe um Xcode para o iPad Pro. O tão desprezado Mac continua sendo a única forma de se lançar um aplicativo para iOS atualmente.

A Apple precisa se decidir sobre o que realmente quer para o futuro. Trabalham para que o iPad seja o substituto do Mac, porém criam também um buraco entre ele e o presente — já que hoje o iOS ainda não é capaz de realizar várias tarefas do macOS e os Macs, bem, vocês sabem da situação. O Mac não vai para a frente com essa “dança das cadeiras” que acontece com as equipes, mas também não morre de vez. Se é para continuar com o Mac, que façam direito.

Aos poucos, a empresa acaba com o seu próprio ecossistema. Muitos compraram um Mac por já terem antes um iPhone ou um iPad, e depois acabaram se prendendo ainda mais nos produtos da Apple, optando também por um monitor Cinema Display e um dos roteadores AirPort — hoje dois produtos praticamente extintos. Com tantos produtos da marca, o usuário pensava duas vezes antes de trocar seu computador, celular ou tablet para outro, e isso não acontece mais.

Se não há o que segurar a pessoa no Mac, pode ser que em breve não haja mais também algo para segurar a pessoa no iPhone ou iPad — e talvez só então a Apple voltará a se preocupar com seus computadores. Até lá, só temos uma certeza nisso tudo: ao contrário do que dizem, o futuro do Mac é incerto, e assim deve continuar por um bom tempo.

Sobre o autor

Filipe Espósito é jornalista especializado em tecnologia. Criou o iHelp BR em 2009 para compartilhar dicas sobre dispositivos Apple e hoje também utiliza o espaço para cobrir notícias de tecnologia em geral. Atualmente também é editor do site especializado 9to5Mac.