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Análise do AirTag da Apple: rastreamento simplificado

Muito já se falava sobre o AirTag da Apple antes mesmo do produto ser oficialmente anunciado. Com os vários avanços da rede Buscar (Find My), incluindo a possibilidade de rastrear iPhones e iPads mesmo quando estão sem conexão com a internet, um dispositivo com vida própria que se integra a esse ecossistema todo se tornou inevitável.

O AirTag chega com a proposta de simplificar o rastreamento de qualquer objeto, seja uma chave, carteira, mochila, mala de viagem ou até mesmo uma bicicleta. Combinado com a rede Buscar e os bilhões de dispositivos Apple espalhados pelo mundo, o AirTag funciona dentro e até fora de casa.

À venda por R$369 no Brasil e disponível em um único formato, será que vale a pena investir no rastreador da Apple? Testei o AirTag durante dois meses para trazer todas as respostas em mais uma análise de produto aqui no iHelp BR.

O que vem na caixa

Antes de tudo, é importante ressaltar que a Apple comercializa o AirTag de duas formas diferentes. É possível adquirir um único rastreador por R$369 ou um pacote com quatro AirTags, que é vendido por R$1.249 — o que garante uma economia de R$227 se comparado com o preço de quatro unidades individuais.

A caixa do AirTag é bem simples e similar a de outros acessórios vendidos pela Apple. Seja na versão individual ou no pacote com quatro unidades, o cliente recebe o acessório em uma embalagem de papel com alguns folhetos de instrução. Não há adesivos ou chaveiros inclusos.

Em alguns países, o cliente pode personalizar os AirTags com um emoji ou algumas poucas letras através da loja online da Apple. Essa opção, infelizmente, não está disponível no Brasil.

Minimalista ao extremo

O design do AirTag é definitivamente o que se espera de um produto Apple, seja para o lado bom ou ruim. Pouco maior que uma moeda, o AirTag tem a parte superior feita em um plástico branco muito brilhante (que parece ser o mesmo dos AirPods), porém sem qualquer tipo de marcação.

Já a tampa traseira do AirTag, feita em aço inoxidável, é uma versão em miniatura da traseira dos antigos iPods. O logo da Apple fica no centro com algumas marcações em formato de círculo que lembram aquelas na parte traseira do Apple Watch. E sim, os materiais riscam com bastante facilidade, mas isso não chega a ser nenhuma surpresa.

Sendo mais específico, cada AirTag pesa 11 gramas, tem 31,9 milímetros de diâmetro e 8 milímetros de espessura. O tamanho pequeno ajuda a tornar o acessório mais discreto e também facilita o armazenamento em diversos lugares. Ao mesmo tempo, a espessura maior que a de um iPhone 12 torna o AirTag pouco ideal para carteiras muito finas.

Uma vantagem do design quase todo fechado e sem emendas é a maior proteção que isso traz ao pequeno dispositivo. O AirTag conta com certificação IP67, o que significa que o produto é resistente à água, respingos e poeira. A resistência à água, segundo a Apple, é de até 30 minutos submerso em no máximo 1 metro de profundidade.

Embora o AirTag fique com aparência bastante desgastada com o tempo de uso, o acessório é bem resistente e suas funcionalidades dificilmente serão afetadas por riscos, quedas ou até mesmo contato superficial com líquidos.

Um acessório com acessórios

Ao mesmo tempo em que o AirTag é elegante por sua simplicidade, o design do produto o torna dependente de outros acessórios já que não há qualquer tipo de encaixe para prender o AirTag em um chaveiro, por exemplo. Para isso, é preciso comprar acessórios feitos para o AirTag.

Sim, você não leu errado. O AirTag é um acessório que precisa de outros acessórios para funcionar bem em algumas situações. A Apple, é claro, vende os seus próprios acessórios de AirTag em diversas cores.

Quem pretende usar o AirTag para rastrear chaves precisa necessariamente comprar um chaveiro à parte. O chaveiro oficial da Apple é feito em couro e está disponível em cinco cores, porém os preços são salgados por aqui: R$439 por cada unidade. Ou seja, o chaveiro custa mais que o próprio AirTag.

Há também o laço para AirTag, que é útil para quem quer prender o rastreador em uma mala, mochila ou bolsa. O laço original da Apple pode ser adquirido na versão de silicone por R$379 ou em couro por R$499.

No meu caso, testei o chaveiro de couro azul, o laço de couro marrom e outro laço de silicone amarelo (todos da Apple). Os acessórios são bem construídos e muito bonitos, de fato, especialmente o chaveiro azul e o laço amarelo — e olha que eu nem gosto muito de amarelo, mas a cor ficou bem elegante e se destaca entre qualquer outra coisa.

Para quem não está disposto a gastar dinheiro nos acessórios oficiais, já existem várias alternativas aos chaveiros e laços para AirTag que custam bem menos que os acessórios da Apple. Ainda sim, é preciso levar em conta que você provavelmente terá que desembolsar um valor extra para aproveitar todo o potencial do AirTag.

Configuração mágica

Quem possui AirPods, fones Beats ou até mesmo um Apple Watch sabe bem como funciona a configuração “mágica” de acessórios da Apple. Com o AirTag não é diferente. Basta tirar o plástico do rastreador e aproximá-lo do iPhone para iniciar o processo de configuração.

O AirTag emite um som para indicar que está em modo de pareamento. Em seguida, o iPhone já exibe na tela as opções para configurar o acessório, mas tudo é feito em questão de minutos. O usuário precisa apenas confirmar o ID Apple que será vinculado ao AirTag e depois escolher um nome e emoji para representar aquele rastreador.

A partir disso, com o AirTag configurado, todo o gerenciamento do rastreador é feito a partir do aplicativo Buscar da Apple. Desde o iOS 14.3, o app conta com uma aba “Itens” dedicada aos AirTags e também a outros acessórios que se integram à rede Buscar.

Encontre de onde estiver

Para ver a localização de um AirTag, basta abrir o app Buscar. Assim como é possível visualizar todos os seus dispositivos Apple em um mapa, o mesmo pode ser feito com os AirTags. Isso porque o rastreamento do AirTag funciona em praticamente qualquer lugar, não apenas quando está perto do dono.

Isso é possível através das tecnologias mais recentes do app Buscar, que localizam o dispositivo mesmo sem estar conectado à internet. A Apple criou uma rede que faz com que todos os aparelhos da marca se comuniquem entre si através da conexão Bluetooth.

Em outras palavras, um iPhone ou iPad perdido pode enviar o sinal para outro aparelho que esteja por perto e conectado à internet. Esse aparelho enviará a localização de forma anônima para a Apple, que então encaminhará essa informação para o app Buscar.

No caso do AirTag, o rastreador simplesmente aproveita essa mesma rede para funcionar em qualquer lugar — afinal, o acessório não conta com rede de celular, GPS ou conexão Wi-Fi. Tudo é feito através de dispositivos Apple que estão nas proximidades.

Supondo que o usuário perca um AirTag. Assim que qualquer pessoa passar perto desse AirTag com um iPhone ou iPad, o dispositivo reconhecerá o rastreador e avisará os servidores da Apple que aquele tag foi encontrado naquele local. Dessa forma, o usuário tem mais chances de encontrar objetos perdidos ou até mesmo roubados.

Para testar se esse sistema de fato funciona, coloquei um AirTag no meu bolso e desativei todas as conexões do meu celular, exceto a rede 4G para conseguir acessar o app Buscar. Dessa forma, o AirTag ficou impossibilitado de se comunicar com o meu iPhone, funcionando apenas com os dispositivos de outras pessoas por perto.

Em uma caminhada na rua de 3 quilômetros, recebi quatro alertas do aplicativo Buscar indicando que meu AirTag havia sido encontrado em pontos diferentes. Em um deles, o funcionamento da rede Buscar ficou bem evidente já que passei bem em frente de uma pessoa que estava na calçada com um iPhone na mão. Alguns segundos depois, o app Buscar já me avisou que o AirTag foi detectado naquele endereço.

Esses alertas, por sinal, podem ser configurados dentro do app Buscar ao definir aquele objeto como perdido. Com o iOS 15, que será lançado no final do ano, os usuários também poderão ser avisados imediatamente caso deixem um objeto com AirTag para trás.

Então sim, o rastreamento do AirTag funciona como prometido, mas isso tem vários poréns. Como já ficou claro, os AirTags dependem de outros produtos da Apple para serem identificados. No Brasil, onde poucas pessoas têm iPhones e iPads, isso acaba comprometendo a funcionalidade do produto.

Se você mora em uma região em que mais pessoas utilizam os dispositivos da Apple ou se perder seus AirTags dentro de um shopping ou supermercado, as chances de encontrar aquele objeto serão maiores. Só que, caso você perca o objeto com o AirTag e nenhum dispositivo Apple esteja por perto, ficará mais difícil de encontrá-lo.

A própria Apple reconhece as limitações do produto e não recomenda que o AirTag seja utilizado para usos mais sérios como rastrear animais ou até mesmo um automóvel, já que o rastreamento não é em tempo real.

Outro detalhe é que a conexão Bluetooth não costuma providenciar uma localização tão precisa. O app Buscar normalmente exibe um círculo azul para indicar que o objeto foi identificado naquela região, mas não necessariamente o AirTag está exatamente no ponto indicado. É aí que entra a “parte dois” do AirTag.

Busca Precisa

Além da conexão Bluetooth, os AirTags são equipados com a tecnologia de banda ultra-larga, também presente em modelos mais novos de iPhone e Apple Watch. Essa tecnologia, também conhecida como UWB, consegue indicar a posição exata do dispositivo através de frequências de curto alcance.

Nos iPhones com chip U1 (iPhone 11 em diante, exceto iPhone SE de segunda geração), o app Buscar da Apple oferece um modo de “Busca Precisa” que utiliza a tecnologia de banda ultra-larga para encontrar o local exato de um AirTag no ambiente.

Para isso, basta escolher um objeto na aba Itens do app Buscar e tocar no botão “Buscar Por Perto”. Nesse caso, o AirTag precisa estar em um raio de 10 metros para se conectar com o iPhone através do UWB. O app Buscar exibe uma tela com sugestões para que o usuário se mova pelo ambiente em busca do sinal do AirTag.

Quando a distância entre o iPhone e o AirTag é menor que 5 metros, o sistema exibe algumas setas para mostrar o local exato em que o objeto está. Basta seguir as setas no sentido indicado. Durante a etapa final, o iPhone emite uma vibração única que fica mais forte quando o AirTag está mais próximo.

Também é possível emitir um alerta sonoro no AirTag através do iPhone, o que facilita bastante a busca quando ainda não há certeza do local exato em que o objeto está. Os sons do AirTag são reproduzidos através de vibrações no plástico e podem ser escutados com certa facilidade dentro de casa, mas dificilmente serão percebidos em locais com muito barulho.

Minha experiência com a Busca Precisa do AirTag foi um pouco mista. Em alguns casos, o app Buscar foi capaz de indicar o caminho até o objeto com bastante precisão e sem muita dificuldade. Em outros, o iPhone só identificou o AirTag com menos de 2 metros de distância.

Inclusive, esse recurso também utiliza as câmeras do iPhone para mostrar o caminho até o AirTag — o que faz a funcionalidade ser afetada em locais muito escuros. Há até mesmo um botão para ligar o flash do iPhone na interface de Busca Precisa que pode ajudar nesses casos.

Rastreador de objetos, não de pessoas

Os AirTags foram criados para o rastreamento de objetos, e a Apple deixa isso bem claro. Ao mesmo tempo, nada impede que alguém esconda um AirTag nas roupas ou mochila de uma pessoa para rastreá-la sem consentimento. Felizmente, a Apple pensou nesses casos e apresentou também uma série de recursos voltados para a privacidade.

Caso você tenha um iPhone, iPod touch ou iPad que esteja com o iOS 14.5 ou uma versão mais recente do sistema operacional, seu dispositivo é capaz de detectar AirTags de outras pessoas que estejam te seguindo. Ao reconhecer que um AirTag de outro usuário está te acompanhando, o iOS imediatamente exibe um alerta de “AirTag Detectado”.

Com isso, o usuário pode reproduzir um som naquele AirTag para encontrá-lo ou também desativar os alertas de rastreamento, caso se trate de um objeto com AirTag que foi emprestado com consentimento.

A Apple também oferece opções para conferir o número de série e outras informações daquele AirTag. Isso pode ser útil nos casos em que o rastreador foi escondido nos pertences do usuário, pois assim é possível identificar o ID Apple em que o AirTag foi registrado. Também são fornecidas as instruções para desativar completamente o AirTag.

Segundo a Apple, a empresa oferecerá em breve um aplicativo para Android que também será capaz de detectar AirTags em movimento.

Ajuda de terceiros

Da mesma forma que a Apple fornece informações de um AirTag que pode ter sido utilizado para rastrear alguém sem permissão, também é possível visualizar essas informações para ajudar outra pessoa a recuperar seus pertences perdidos.

Caso alguém encontre seus objetos com um AirTag, essa pessoa pode aproximar o celular (seja iPhone ou Android) para escanear o acessório através da tecnologia NFC — a mesma utilizada para os pagamentos por aproximação. Isso, é claro, requer que o celular também tenha NFC.

Ao ler um AirTag perdido, o celular abre um link da internet que mostra as informações de contato do dono daquele objeto, como telefone ou endereço de email. Com isso, a pessoa que encontrou o objeto com AirTag pode entrar em contato com o dono para devolvê-lo.

Através do app Buscar, o dono de um AirTag pode definir uma mensagem que aparecerá junto às informações de contato quando o rastreador é colocado em Modo Perdido.

E a bateria?

Entre as principais dúvidas que recebi sobre o AirTag, as principais são relacionadas com a bateria.

Não há como recarregar a bateria do AirTag. A Apple afirma que acessório consegue ficar ligado por até um ano, mas isso deve variar de acordo com o uso. Quanto mais você usa a Busca Precisa e os alertas sonoros (que consomem mais energia), menos tempo a bateria deve durar.

Mas calma, não é preciso reciclar o AirTag quando a bateria se esgotar completamente. Diferente de praticamente todos os outros produtos da Apple, o AirTag não tem bateria fixa. Isso significa que o usuário pode facilmente substituir o componente quando necessário.

Basta remover a tampa de aço inoxidável para acessar a bateria do AirTag, que nada mais é do que uma CR2032, também conhecida como “bateria-botão” — aquelas que normalmente são utilizadas em relógios comuns. O próprio usuário pode comprar outra bateria e substituí-la em casa.

Mas vale o adendo: somente baterias CR2032 são compatíveis com o AirTag da Apple. Existem outras baterias tipo “botão” que são extremamente parecidas, mas não se encaixam no acessório. Quando chegar a hora de trocar a bateria do AirTag, procure pela CR2032.

O nível da bateria de um AirTag é exibido dentro do app Buscar no iOS. Como apenas dois meses se passaram desde que ativei meus AirTags, o nível de bateria deles praticamente não caiu desde então. Vale notar que a bateria do AirTag é indicada apenas por um ícone e não com a porcentagem exata.

Vale a pena?

Se vale a pena ou não, depende de como você pretende usar o AirTag. O acessório de fato permite que o usuário rastreie várias coisas sem a necessidade de conexão com a internet, mas é importante ter em mente que o produto tem suas limitações.

O AirTag funciona bem com objetos simples como chaves e carteiras (não todas por causa da espessura). Nesses casos, ter um AirTag pode ser útil por conta da Busca Precisa, já que são coisas que eventualmente perdemos dentro de casa. Eu mesmo sempre esqueço onde coloquei minha carteira, mas agora não preciso mais perder tempo para encontrá-la.

Com o iOS 15, o AirTag também fica mais interessante por conta da opção para ser notificado ao deixar um objeto para trás. Se você é uma pessoa esquecida, isso provavelmente será útil para evitar maiores dores de cabeça.

Já para quem busca um rastreador super confiável para colocar no carro, em animais ou qualquer outra coisa de alto valor, o AirTag pode não ser a melhor opção. A falta de rastreamento em tempo real atrapalha o uso nesses casos, já que o objeto pode estar em movimento sem que o dono saiba.

Há ainda a questão do preço e do ecossistema. O AirTag não é absurdamente caro, mas também não é barato. Desembolsar R$369 para rastrear objetos dentro de casa chega a ser mais um luxo do que necessidade. Além disso, é preciso ter um iPhone mais recente para aproveitar todos os recursos do rastreador. Isso sem contar a necessidade de chaveiros e outros acessórios para o AirTag.

No fim das contas, o AirTag é um rastreador doméstico que eventualmente pode te ajudar a localizar algum pertence perdido fora de casa. Se você está inserido no ecossistema Apple e é apenas isso que você procura, o AirTag deve atendê-lo bem.

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Sobre o autor

Filipe Espósito é jornalista especializado em tecnologia. Criou o iHelp BR em 2009 para compartilhar dicas sobre dispositivos Apple e hoje também utiliza o espaço para cobrir notícias de tecnologia em geral. Atualmente também é editor do site especializado 9to5Mac.