Imagine a seguinte situação: você compra um iPhone novo e, um ano depois, descobre que o aparelho possui um defeito de fábrica que impede seu funcionamento. Com isso, você procura uma assistência autorizada da Apple para que repararem a unidade defeituosa, porém a empresa afirma que o problema foi causado por mau uso. Frustrante, não? Pois é exatamente isso que está acontecendo com alguns donos de iPhones 6 Plus.
Entenda o caso
Ainda há alguns meses, um grupo de usuários do iPhone 6 Plus começou a relatar que os aparelhos estavam apresentando falhas na tela, mais especificamente no sensor sensível ao toque. O iPhone simplesmente deixava de responder aos comandos, além de ficar com uma barra cinza piscando aleatoriamente no topo. A iFixit, empresa especializada no reparo de eletrônicos, analisou o caso e afirmou que o inconveniente envolvia um defeito na fabricação.
Ao que parece, o defeito não está propriamente na tela, mas sim no chip que controla o sensor de toques. Com algum tempo de uso, a solda entre o chip e a placa dos iPhones afetados acabava se desgastando, interferindo diretamente no funcionamento de tudo. A situação repercutiu e ficou conhecida popularmente como “doença do toque”, porém a Apple continuou ignorando tudo. Vários clientes que procuraram assistência tiveram o reparo negado, já que a empresa dizia que “nenhum problema de fábrica foi identificado” e que “o iPhone já está fora da garantia e não há o que fazer”.
Já que a Apple não ia fazer nada, algumas pessoas acabaram pagando o valor cobrado pela empresa para trocarem o iPhone por um novo fora da garantia, enquanto outras procuraram assistências não autorizadas para arrumarem o aparelho. Além disso, surgiram diversos casos de quem processou a Apple por conta disso e ganhou na justiça — inclusive no Brasil.
A “solução”
Nesta semana, a Apple finalmente se pronunciou sobre o assunto e reconheceu o defeito na tela de algumas unidades do iPhone 6 Plus. Porém, para aqueles que já ficaram esperançosos, a empresa desapontou mais uma vez: será preciso pagar para receber um iPhone novo. Sim, o cliente precisa pagar R$ 799 para a Apple arrumar um problema que ela mesmo causou. A empresa ainda afirma que, caso alguém tenha pago um valor maior para trocar o iPhone defeituoso anteriormente, a diferença será reembolsada.
Apesar do reconhecimento, a Apple “bateu o pé” ao dizer que o problema na tela “é culpa do usuário”, e só acontece no caso do iPhone cair no chão — o que certamente é mentira já que muitas pessoas estão passando por isso sem sequer terem derrubado o celular na vida. Ainda fazem questão de lembrar que o reparo normal do iPhone 6 Plus fora da garantia custa R$ 1.649, como se o valor de R$ 799 fosse um grande desconto, um ato de bondade da empresa com seus clientes.
Realmente, se o culpado fosse o dono do iPhone, o preço cobrado pela troca estaria justo, mas não é o caso aqui. Vários especialistas já comprovaram que houve uma falha na fabricação destas unidades, algo que certamente deve ser de responsabilidade da Apple — independente do aparelho estar ou não na garantia. Outros “recalls” de iPhones já foram anunciados anteriormente, e ninguém precisou pagar um centavo para ter o aparelho trocado — eu mesmo já fui contemplado com um iPhone 5 novo mesmo fora da garantia por conta de um defeito de fábrica no botão liga/desliga. A atitude da Apple é, no mínimo, questionável.
De acordo com a advogada Ticiana Capris, com quem conversamos, os consumidores que possuem um iPhone 6 Plus nessa situação podem recorrer contra a Apple na justiça, seja procurando um advogado ou um Juizado de Pequenas Causas. No caso de quem prefere simplesmente solucionar tudo rapidamente e pagar a troca para a Apple, o programa de reparos começa no dia 2 de dezembro.
E assim, aos poucos, eles mesmo acabam com a boa imagem que tinham de seu suporte técnico. Se a Apple realmente ainda se importar um pouco com seus clientes, voltará atrás na decisão de cobrar para arrumar estes iPhones.