Histórias sobre aquisições de produtos da Apple por parte do poder público brasileiro não chegam a ser novidade, mas algo curioso aconteceu nesta semana com integrantes do Ministério Público Federal. Segundo uma reportagem da Folha, procuradores falam em “humilhação” e chamaram iPhone SE custeado com dinheiro público de “esmola”.
Mensagens enviadas pela rede interna dos procuradores da República obtidas pela Folha revelam que os integrantes do MPF ficaram insatisfeitos com os novos celulares fornecidos pela Procuradoria-Geral da República. Em um novo contrato com a operadora Claro, a PGR disponibilizou um novo iPhone SE de segunda geração atrelado a um plano pós-pago com custo mensal de R$219,90 a 1.200 procuradores e a 650 servidores comissionados.
No Brasil, cada procurador do Ministério Público Federal recebe salário de R$33.600, auxílio-alimentação de R$910, abono pecuniário de até R$29.900 ou gratificação por acúmulo de ofício de até R$7.500. Além disso, os procuradores também recebem notebooks, celulares e tablets de até R$4.500. Isso não impediu os funcionários públicos de criticarem o aparelho fornecido pela PGR.
Conforme citado na reportagem, entre todas as mensagens enviadas pelos procuradores, o procurador Marco Tulio Lustosa Caminha expressou descontentamento ao descobrir que receberia um iPhone SE de segunda geração. “Isso é um insulto!! Não quero esmola! Acho que ninguém aqui quer esmola!!” disse Caminha.
É isso mesmo, Darlan??!!! Você acha mesmo que depois de mais de três anos com um iphone 7, já ultrapassado, processador lento, bateria ruim, tela pequena, vamos aceitar por mais outros 30 meses um iphone SE?? Acho que ninguém aqui é moleque, Darlan!!
A Procuradoria no Piauí disse em nota que “a fala na rede interna foi retirada de um contexto de ampla discussão sobre a necessidade de troca dos celulares”. Segundo um porta-voz da Procuradoria no Piauí, a discussão foi motivada por necessidades de trabalho dos procuradores, que precisam de aparelhos mais modernos para trabalharem em casa durante a pandemia.
Já a PGR defende que o iPhone SE é um aparelho com custo adequado e tecnologias que atendem às necessidades dos procuradores, além de citar a integração e compatibilidade com o iPad fornecido pelo Ministério Público Federal. O MPF se recusou a comentar as mensagens enviadas pelos procuradores.
O iPhone SE de segunda geração foi lançado em 2020 e conta com o mesmo processador A13 Bionic do iPhone 11, além de câmeras capazes de gravar vídeos em 4K. Apesar disso, o aparelho manteve o design do iPhone 8 com tela LCD de 4.7 polegadas e botão Início com biometria por Touch ID. No Brasil, o iPhone SE é vendido oficialmente por preços a partir de R$3.700, mas é possível encontrá-lo por preços menores no varejo.
Tal situação coincide justamente com o período em que milhões de brasileiros estão enviando suas declarações anuais de imposto de renda, que inevitavelmente acabam financiando as regalias — ou “esmolas”, como disse o procurador Caminha — dos políticos brasileiros.