Não é a primeira vez que a Apple se envolve em polêmicas relacionadas às políticas de privacidade e segurança que a empresa adota em seus produtos e sistemas operacionais. Devido ao fato de que o governo americano ordenou que a Apple desbloqueasse o iPhone de um terrorista para que o FBI possa coletar dados, Tim Cook — presidente da empresa — publicou hoje uma carta aberta para comentar sobre o assunto, explicando os motivos para não abrirem brechas para ninguém.
Os acusados em questão são Tashfeen Malik e Syed Farook, que seriam os responsáveis pelo ataque terrorista no final do ano passado em San Bernardino, nos Estados Unidos, que matou cerca de 14 pessoas e deixou mais 21 feridos. Após o início das investigações, o FBI encontrou vários celulares dos acusados, incluindo um iPhone 5c, que seriam levados até um laboratório para retirar informações.
Como já era esperado, não foi possível quebrar a criptografia do iPhone, graças ao sistema de segurança que a Apple utiliza no iOS. A Apple se dispôs a ajudar no caso fornecendo alguns engenheiros para aconselhar o FBI nas investigações, porém, a justiça dos Estados Unidos ordenou que a empresa criasse uma versão alternativa do iOS que desbloqueie qualquer aparelho para instalar no iPhone do terrorista. A empresa se negou.
Na carta, Tim Cook deixa claro o compromisso que a Apple tem com a segurança dos dados pessoais de todos os seus usuários, criando um sistema de segurança para que os hackers, criminosos e até mesmo a própria Apple não consigam acessar os dados de um aparelho bloqueado com senha. De acordo com Cook, criar uma ferramenta para desbloquear qualquer dispositivo deles é muito perigoso pois, apesar do FBI ter boas intenções, a brecha estaria disponível para qualquer outra pessoa mal-intencionada e a Apple perderia o controle da segurança que tem hoje em seu sistema. O governo afirma que esta ferramenta de desbloqueio seria utilizada apenas neste caso específico, porém o presidente da Apple lembra que, uma vez criada, a brecha poderá ser utilizada várias outras vezes em vários outros dispositivos — fazendo um comparativo com uma chave-mestra.
O governo está pedindo para a Apple invadir nossos próprios usuários e arruinar décadas de avanços em segurança que protegem os nossos consumidores de hackers e cibercriminosos. Os mesmos engenheiros que criaram uma forte criptografia no iPhone para proteger os nossos usuários iriam, ironicamente, ser obrigados a enfraquecer essas proteções e deixar os nossos usuários menos seguros. — Tim Cook.
A justiça americana chegou a solicitar até que a Apple remova um recurso de segurança do iOS que apaga todos os dados armazenados no dispositivo após dez tentativas incorretas de digitar a senha do usuário, permitindo que o código seja quebrado digitalmente com ataques de “força bruta”.
O governo nos obrigaria a remover recursos de segurança e adicionar novas capacidades ao sistema operacional, permitindo que uma senha seja digitada eletronicamente. Isso facilitaria desbloquear um iPhone por “força bruta”, experimentando milhares ou milhões de combinações com a velocidade de um computador moderno. — Tim Cook.
Por fim, Tim Cook ainda lembra que a brecha poderia ser utilizada posteriormente pelo próprio governo para interceptar dados pessoais de todas as pessoas, como mensagens, localização e até mesmo o microfone do dispositivo. Algo que também já é discutido há muito tempo.
O governo poderia utilizar essa brecha de privacidade e pedir que a Apple crie programas de vigilância para interceptar suas mensagens, acessar seus registros de saúde e dados financeiros, rastrear a sua localização, ou até mesmo acessar o microfone e a câmera do seu telefone sem a sua permissão.
O assunto é complicado e provavelmente continuará rendendo discussões por muito mais tempo. Por um lado, há a necessidade do FBI em coletar informações pessoais de criminosos para ajudar em investigações contra terroristas, pelo outro, a Apple quer continuar permitindo que os usuários tenham todos os seus dados pessoas protegidos contra pessoas mal intencionadas. A Apple tem agora cinco dias para ajudar ou não a organização.