Há muito tempo falava-se sobre a possibilidade da Apple lançar novos Macs com seus próprios processadores. Afinal, os chips de arquitetura ARM que equipam o iPhone e o iPad já provaram ser mais potentes e eficientes do que vários processadores de computador. Isso finalmente aconteceu no final do ano passado com os novos Mac mini, MacBook Pro e MacBook Air.
Embora sejam três Macs diferentes, eles têm em comum o novo chip M1 — que foi desenvolvido pela própria Apple para substituir os processadores Intel. Mesmo sem grandes mudanças do lado de fora, os Macs com chip M1 prometem revolucionar o mercado de computadores. Testei o chip M1 da Apple através do novo MacBook Air durante o último mês para compartilhar a minha experiência nesta análise.
Por fora, um MacBook Air
Quem adquirir qualquer um dos novos Macs com chip M1 dificilmente encontrará diferenças visuais ao compará-los aos Macs das mesmas linhas que foram lançados nos últimos dois anos. No caso do MacBook Air com M1, a estrutura é a mesma das gerações anteriores.
O MacBook Air é o notebook “de entrada” da Apple. Embora os modelos anteriores não tenham performance tão alta, a linha Air se tornou extremamente popular por conta do design super compacto e também do preço mais acessível em relação ao MacBook Pro.
A principal diferença de design entre o MacBook Pro e o MacBook Air está na espessura. Enquanto o MacBook Pro tem laterais retas com 1,56 centímetros de espessura, o MacBook Air tem 1,61 centímetros em sua maior extremidade e chega a 0,41 centímetros na ponta. O peso também é diferente entre eles: 1,4 quilogramas para o MacBook Pro e 1,29 quilogramas para o MacBook Air.
Esse é o meu primeiro MacBook Air após anos usando o MacBook Pro. A diferença no peso, embora não seja muita, é bem perceptível no dia a dia ao colocar o notebook no colo ou transportá-lo na mão. Já a questão da espessura acaba sendo uma característica bem mais estética, considerando que o MacBook Pro está longe de ser um notebook grosso.
O trackpad do MacBook Air é menor se comparado ao do MacBook Pro, porém o tamanho ainda é mais do que satisfatório e as tecnologias são as mesmas, desde o suporte para gestos multitoque até o reconhecimento de diferentes níveis de pressão com o Force Touch. Continua sendo um dos melhores trackpads de toda a indústria de notebooks.
Na caixa do MacBook Air, o usuário encontra o adaptador de tomada de 30W e um cabo USB-C, além da documentação do computador e os tradicionais adesivos da Apple — que dessa vez seguem a cor do MacBook. No meu caso, o Mac e os adesivos são na cor cinza-espacial (há também as opções prata e dourado).
Tela Retina aprimorada
O MacBook Pro sempre foi referência em tela de notebook, enquanto o MacBook Air deixava a desejar em alguns aspectos. Foi em 2018 que a Apple finalmente colocou tela Retina no MacBook Air, que continua presente na geração mais recente.
O painel de 13.3 polegadas tem resolução nativa de 2560 x 1600 pixels, sendo 227 pixels por polegadas — ou seja, as mesmas especificações do MacBook Pro. A resolução alta faz com que todos os elementos, desde textos até imagens, sejam exibidos na tela com muita nitidez. Como em qualquer tela Retina da Apple, é quase impossível distinguir os pixels.
Dessa vez, porém, a Apple melhorou ainda mais a tela do MacBook Air. Os modelos de 2020 com chip M1 contam pela primeira vez com ampla tonalidade de cores (DCI-P3) e 400 nits de intensidade de brilho, enquanto o MacBook Air de 2018 atingia apenas 300 nits de brilho.
No MacBook Pro, a tela Retina chega a 500 nits de intensidade de brilho, o que é uma marca bem razoável e até maior do que muitos televisores de entrada oferecem. Embora a tela do MacBook Air não seja capaz de atingir o mesmo nível de brilho, os 400 nits são suficientes para usar o notebook em vários ambientes sem muitos problemas.
Em questão de cores e qualidade de exibição, a experiência que eu tenho com a tela do MacBook Air é praticamente a mesma que eu tive com o MacBook Pro. As cores são vibrantes, os pretos profundos (dentro do possível, pois o painel é LCD IPS) e o ângulo de visão é amplo e sem distorções perceptíveis.
A diferença na intensidade do brilho de fato existe, mas não é tão notável como nas gerações antigas do MacBook Air. Até hoje nunca encontrei outro notebook com uma tela tão boa quanto os painéis Retina da Apple. A tela do MacBook Air deve agradar desde os usuários comuns até os profissionais mais exigentes.
Para dizer que a tela não é perfeita, as bordas ao redor do painel são relativamente grandes para os padrões atuais da indústria, mas não é nada que atrapalhe a experiência de uso.
Sai o teclado Borboleta, entra o Magic Keyboard
Na minha análise do MacBook Pro com Touch Bar publicada em 2018 no iHelp BR, dediquei uma seção do artigo para falar sobre o polêmico teclado Borboleta, que tem esse nome por conta do mecanismo interno com movimento que lembra o de asas de uma borboleta.
A Apple projetou o teclado Borboleta em 2015 para otimizar o espaço interno dos MacBooks, o que permitiu a criação do MacBook com tela de 12 polegadas e posteriormente do MacBook Pro e MacBook Air redesenhados com espessura menor. Por ser mais fino, as teclas não têm tanto espaço para “afundar”, o que torna a digitação um tanto estranha e barulhenta.
Embora eu gostasse do teclado Borboleta por ele ter teclas maiores e mais estabilidade ao pressioná-las, o que permitia que eu digitasse com mais velocidade, ele tinha um sério problema de engenharia: era comum o acúmulo de sujeira no espaço quase inexistente entre as teclas e o mecanismo. Quando isso acontecia, as teclas paravam de funcionar.
Pior que isso: por ter todos os componentes soldados, não havia como simplesmente tirar a tecla defeituosa para limpá-la ou substituí-la. Era preciso levar o Mac até a Apple para a empresa efetuar a troca de toda a estrutura do computador. Depois de muita dor de cabeça e vários programas de substituição, a empresa voltou atrás.
Assim como o MacBook Pro com tela de 16 polegadas, o MacBook Air com chip M1 vem com o Magic Keyboard — um nome chique para um teclado que é basicamente uma versão aprimorada do que já existia em Macs antigos e que agravada muitos usuários. O mecanismo Tesoura proporciona mais profundidade ao pressionar as teclas e evita defeitos por sujeira acumulada.
Chega a ser estranho digitar nesse novo-velho teclado novamente depois de usar o teclado Borboleta por alguns anos, mas é tudo questão de costume. Quem gosta de sentir as teclas afundando ao digitar vai gostar do Magic Keyboard, sem contar que ele é bem menos barulhento do que o teclado Borboleta. E o mais importante: você provavelmente não vai precisar trocá-lo a cada ano.
Diferente do MacBook Pro, o MacBook Air não tem Touch Bar. A pequena tela sensível ao toque posicionada logo acima do teclado com atalhos de sistema continua exclusiva dos modelos Pro, enquanto o teclado MacBook Air tem as tradicionais teclas de função. Inclusive, a Apple retirou os botões de ajuste de iluminação do teclado e colocou botões para os recursos Ditado e Não Perturbe no lugar. Decisão um tanto questionável.
Confesso que senti menos falta da Touch Bar do que eu esperava. No começo eu ainda tentava procurar alguns atalhos que eu usava na Touch Bar do meu MacBook Pro, como por exemplo selecionar Emojis, reagir à mensagens no iMessage ou alternar de aba no Safari. Mas depois de usar o MacBook Air por um mês, percebi que a Touch Bar não é tão necessária assim. Inclusive, ter uma tecla “Esc” física é muito bom.
O Touch ID também está presente no MacBook Air, embutido no botão liga/desliga do computador. O leitor de impressões digitais da Apple é rápido na maioria das ocasiões e o usuário não precisa se preocupar com a posição do dedo para que a leitura funcione.
Infelizmente, o macOS continua exigindo senha ao invés da biometria para alterar algumas configurações do sistema, o que é bem chato quando o computador tem um ótimo leitor biométrico embutido. Ao menos agora, vários aplicativos de terceiros já oferecem suporte ao Touch ID no Mac.
O que é o M1?
O grande destaque deste Mac, é claro, fica por conta do chip M1. Mas afinal, que chip é esse?
Conforme citei logo no início da análise, o M1 é o primeiro chip de arquitetura ARM desenvolvido pela Apple para computadores. A empresa já usa essa mesma arquitetura nos chips criados para o iPhone, iPad, Apple Watch e Apple TV, mas os Macs até então ainda tinham processadores Intel.
Quem acompanha o mercado de computadores já deve saber que a Intel praticamente parou no tempo. Cada processador novo lançado pela empresa costuma ter poucos avanços em relação ao anterior, por isso era até comum que as melhorias de desempenho não fossem tão perceptíveis entre um modelo e outro.
Os processadores Intel (baseados na arquitetura x86, que é amplamente utilizada por computadores há décadas) não são exatamente eficientes. Além de consumirem muita energia, esses processadores esquentam bastante e tendem a perder desempenho para evitar problemas mais sérios quando isso acontece.
Enquanto isso, os processadores que a Apple vem desenvolvendo para seus dispositivos móveis ficam cada vez mais poderosos e eficientes. Não é atoa que o chip A14 Bionic do iPad Air 4 faz com que o tablet execute algumas tarefas com muito mais performance do que um computador com processador Intel, isso sem falar no baixo consumo de energia.
A Apple confirmou a transição de processadores Intel para seus próprios chips chamados “Apple Silicon” em julho do ano passado, e o M1 é o primeiro chip da empresa criado especificamente para os Macs utilizando a mesma tecnologia que já está presente no iPhone e no iPad.
O chip M1 foi construído com tecnologia de 5 nanômetros e conta com 16 bilhões de transistores. Ou seja, é um chip extremamente pequeno e ao mesmo tempo com enorme potencial. Quanto menor o chip, maior será a sua eficiência energética. Para se ter uma ideia, o processador Intel utilizado no MacBook Air da geração passada é construído em 14 nanômetros.
Ao contrário dos computadores convencionais e até mesmo Macs antigos que possuem vários componentes separados, o M1 é um System-on-a-Chip (ou SoC) que reúne processador, processador gráfico, memória RAM e armazenamento em um único componente. Com toda essa integração, a comunicação entre cada parte do computador fica muito mais rápida.
O chip M1 da Apple conta com oito núcleos de 3.2GHz, sendo quatro núcleos de alta performance usados para tarefas mais pesadas e mais quatro núcleos de baixa energia para tarefas leves. O processador gráfico também conta com oito núcleos, com exceção do chip M1 incluso na versão de entrada do MacBook Air, equipado com sete núcleos de processamento gráfico.
Inclusive, o MacBook Air que estou usando é justamente o modelo de entrada com processador gráfico de sete núcleos e 8GB de memória RAM. A Apple vende uma versão mais cara do MacBook Air M1 com oito núcleos de processamento gráfico e 16GB de RAM.
Com exceção do núcleo adicional no processador gráfico, o chip M1 é praticamente o mesmo no Mac mini, MacBook Air e MacBook Pro, o que significa que a perfomance de todos os Macs com chip M1 é muito parecida.
Desempenho de dar inveja
Por falar em performance, é impossível não se surpreender com o chip M1 na prática. Principalmente para quem vem de outro MacBook Air ou do MacBook Pro com tela de 13 polegadas, a diferença no desempenho é gritante.
Sempre que eu configurava um novo Mac com processador Intel, a máquina fazia muito esforço durante as primeiras horas de uso. Isso porque o macOS executa uma série de otimizações que vão desde indexar todos os arquivos para a busca do Spotlight até baixar todo o conteúdo do iCloud.
Não tinha jeito, o Mac esquentava e as ventoinhas eram ligadas em velocidade máxima. Isso sem contar que o próprio macOS exibia uma mensagem alertando sobre a possível queda de desempenho durante esse processo. Com o chip M1 no MacBook Air, a experiência já foi completamente diferente. O notebook sequer esquentou, não perdeu desempenho e ficou em silêncio o tempo todo.
O tempo para abrir os aplicativos melhorou drasticamente. Ao clicar no ícone do app Fotos, por exemplo, meu MacBook Pro Intel (Core i5) leva cerca de 7 segundos para abri-lo pela primeira vez. No MacBook Air M1, isso não leva mais de 2 segundos. Apps mais pesados como o Photoshop chegam a levar 20 segundos pra abrir no Mac Intel, enquanto o Mac M1 carrega o mesmo programa em 5 segundos.
Páginas da internet carregam em menos tempo no Safari, arquivos são copiados de uma pasta para outra com muito mais velocidade, o computador liga mais rápido. Inclusive, quando em repouso, a tela dos MacBooks com M1 acende instantaneamente ao levantar a tampa do notebook. Com o M1, você não precisa esperar para usar.
Claro que é preciso bem mais do que carregar as coisas rapidamente para um computador ser considerado potente, e o chip M1 da Apple também surpreende em outros aspectos. Tudo fica muito mais fluído com esse novo processador.
Eu uso meu Mac conectado a um monitor externo 4K e o meu MacBook Pro sofria um pouco para rodar nessa resolução. Eventualmente eu notava engasgos nas animações e durante a reprodução de vídeos, algo que não acontece ao usar o mesmo monitor ligado ao MacBook Air M1. No Safari, os vídeos em 4K HDR rodam sem qualquer esforço e não afetam em nada o desempenho da máquina.
Em um dos meus testes, abri uma imagem em formato PSD de aproximadamente 400MB com centenas de camadas nos dois Macs. O MacBook Air com chip M1 levou cerca de 4 segundos para abrir o arquivo e mais 4 segundos para exportar a imagem em alta resolução no formato PNG. No MacBook Pro Intel, foram 10 segundos só para abrir a imagem e mais 7 segundos para exportá-la em PNG.
Como estou falando em segundos, talvez as melhorias do M1 não pareçam ser tão significativas assim para algumas pessoas. Mas para quem passa o dia todo trabalhando com tarefas mais pesadas na máquina, esses segundos fazem a diferença.
Quando se trata de processamento gráfico, o M1 voa longe se comparado às GPUs integradas da Intel. Algo que faço com frequência no meu dia a dia é editar vídeos no Mac com o Final Cut Pro, e embora meu MacBook Pro fosse capaz de lidar com essa tarefa, o MacBook Air com M1 faz o Mac Intel comer poeira.
Reuni vários clipes gravados com o iPhone 12 em 4K HDR e Dolby Vision em um vídeo de 1 minuto e 11 segundos de duração. Além disso, apliquei filtros de correção de cores em todos os clipes. Enquanto meu MacBook Pro precisou de 5 minutos e 58 segundos para renderizar o vídeo também em 4K, o MacBook Air fez isso em menos da metade desse tempo: 1 minuto e 48 segundos.
Não apenas o tempo de renderização é impressionante como também a fluidez do processo de edição. Não notei qualquer perda de desempenho no computador durante a edição, além de ter conseguido reproduzir a prévia do vídeo em resolução 4K sem qualquer problema. Já no MacBook Pro Intel, alguns engasgos são perceptíveis ao trabalhar com vídeos em 4K.
Uma das situações mais absurdas do chip M1, no bom sentido, é a facilidade em identificar um monitor externo e alterar a resolução da tela. Em qualquer computador tradicional, seja ele Mac ou PC, trocar a resolução da tela está longe de ser uma tarefa demorada — mas é normal o computador ficar alguns poucos segundos sem responder. Nos Macs M1, a troca é instantânea. Não “quase instantânea”, mas sim instantânea.
Basta plugar o monitor ao Mac ou escolher outra resolução nas configurações do macOS e pronto, a interface se ajusta em um piscar de olhos. Não é exatamente o tipo de coisa que vai mudar completamente a experiência do usuário, mas são nesses detalhes que o chip M1 mostra ao que veio.
A prova de fogo foi executar alguns jogos nos dois Macs. Como não existem muitos jogos disponíveis para macOS, decidi testar alguns títulos por meio do sistema operacional Windows — e é aí que as coisas ficam ainda mais interessantes. Diferente dos Macs Intel, os Macs M1 não contam com suporte ao Boot Camp. Isso significa que, neste momento, só é possível rodar o Windows por meio de uma máquina virtual nos Macs M1.
A situação fica ainda mais complicada porque, mesmo na máquina virtual, o M1 suporta apenas a versão do Windows 10 feita para processadores ARM. Com o Windows instalado no aplicativo Parallels, testei o jogo Crash Bandicoot N. Sane Trilogy, que não chega a ser super pesado porém é um título recente e exige especificações moderadas para rodar bem.
Esse jogo é executado de modo razoável no meu MacBook Pro Intel, porém é preciso diminuir a resolução para 720p ou reduzir a qualidade dos gráficos para ele rodar próximo dos 60 quadros por segundo. No MacBook Air com M1, consegui rodar o Crash Bandicoot N. Sane Trilogy mantendo os 60 quadros por segundo porém com resolução 1080p e gráficos nas configurações intermediárias.
Testei também o GTA IV, que é mais antigo porém ainda sim bem exigente. Para jogar esse jogo no meu MacBook Pro de maneira aceitável em resolução 1080p, foi preciso desativar todos os efeitos gráficos nas configurações. No MacBook Air com M1, o GTA IV rodou em resolução 1080p com gráficos em configurações altas sem muita dificuldade.
E essas comparações, vale lembrar, foram feitas por meio de uma máquina virtual que emula os jogos de processadores Intel no Windows 10 ARM. Enquanto isso, o MacBook Pro Intel rodava o Windows 10 nativamente por meio do Boot Camp. Mesmo assim, a performance do MacBook Air M1 foi superior.
Ainda não dá para dizer que o Mac é um computador bom para jogos, até porque os títulos disponíveis no macOS são quase inexistentes e eu duvido que alguém que leve jogos a sério estará disposto a depender do Boot Camp ou de uma máquina virtual. Apesar disso, as melhorias gráficas que o chip M1 trouxe para os Macs de entrada são notáveis e isso pode abrir portas para a chegada de mais jogos no macOS futuramente.
Embora eu esteja usando um Mac com apenas 8GB de memória RAM, não notei qualquer dificuldade do sistema mesmo ao abrir várias abas no Safari ou executar muitos aplicativos ao mesmo tempo. O gerenciamento de memória do macOS funciona muito bem, além de ser beneficiado pelos absurdos 4.266 MHz de velocidade da RAM embutida no M1.
Para aqueles que adoram comparar números de testes de benchmark, que mensuram o desempenho de um dispositivo independente da plataforma, o novo MacBook Air faz bonito. Nos testes do Geekbench 5, o chip M1 do MacBook Air de entrada pontuou 1.700 em um único núcleo e 7.360 utilizando todos os núcleos. Isso coloca o MacBook Air com chip M1 no mesmo patamar de performance de outros computadores bem mais caros.
O MacBook Pro com tela de 16 polegadas, equipado com o processador Intel Core i9, fez 1.092 pontos em um único núcleo e 6.851 pontos com todos os oito núcleos em uso. Enquanto isso, o MacBook Air da geração passada com processador Intel Core i5 obteve 1.126 pontos em um núcleo e míseros 3.017 pontos com seus quatro núcleos ativados.
Na prática, isso significa que o usuário pode agora adquirir uma máquina muito mais potente por um preço bem menor se comparado aos Macs mais caros. Aquela história de Macs de entrada funcionarem bem apenas para tarefas leves ficou no passado com os chips Apple Silicon.
Eficiência e bateria de sobra
Não foi apenas na questão do desempenho que o chip M1 da Apple deu um salto gigantesco em relação aos processadores Intel. A eficiência energética dos novos chips Apple Silicon é extremamente absurda ao ponto do computador conseguir se manter ligado consumindo apenas 5W de energia, enquanto os processadores Intel dos Macs antigos dificilmente ficam abaixo dos 15W.
Afinal, a arquitetura ARM do Apple Silicon é a mesma que a Apple utiliza há anos em seus dispositivos móveis como o iPhone e iPad, pensada para economizar energia acima de tudo. Isso praticamente dobrou a média de duração da bateria dos novos MacBooks com chip M1.
Para se ter uma ideia, a Apple prometia algo em torno de 8 a 10 horas de uso para os modelos mais recentes do MacBook Air e MacBook Pro com processadores Intel. No dia a dia, era muito difícil chegar nesse número. Com o meu MacBook Pro, eu dificilmente conseguia usar o computador por mais de 7 horas fora tomada.
Para o MacBook Air com chip M1, a Apple diz que a duração da bateria pode chegar até 18 horas a depender do uso. Surpreendentemente, já consegui alcançar até mesmo resultados melhores do que esse na prática. Com uso moderado, o que inclui reprodução de músicas e vídeos, uso de redes sociais e edição de imagens no Photoshop, foi possível deixar o Mac fora da tomada por cerca de 16 horas.
Nos testes em que usei o MacBook Air apenas para tarefas mais leves como editar textos e reprodução de músicas, o computador ficou quase três dias fora da tomada — isso, é claro, considerando também o tempo em que a máquina ficou hibernada. Ao fechar a tampa, o consumo de energia é praticamente zero.
Mesmo realizando atividades mais pesadas como assistir e editar vídeos, abrir jogos em 3D e executar vários aplicativos ao mesmo tempo, dá para manter o computador ligado fora da tomada por quase 10 horas. Enquanto isso, ao editar e renderizar um vídeo no Final Cut Pro com meu MacBook Pro Intel fora da tomada, a bateria se esgotou em pouco mais de 3 horas.
Tamanha eficiência energética faz com que o MacBook Air M1 consiga executar a maioria dos aplicativos sem um aumento significativo na temperatura da máquina. Em um uso normal, foi difícil ver a temperatura do Mac passar dos 30ºC. Já o MacBook Pro Intel quase sempre fica acima dos 45ºC, mesmo com as ventoinhas ligadas.
O MacBook Air M1, por sinal, não tem ventoinha ou qualquer sistema de refrigeração ativa. Como não há ventoinha, o computador é completamente silencioso e é até estranho usar um MacBook sem ouvir absolutamente nada. Mesmo assim, o notebook dificilmente esquenta ao ponto de incomodar o usuário ao apoiar as mãos na área do trackpad ou ao colocá-lo no colo.
Apps e compatibilidade
A chegada do Apple Silicon ao Mac fez com que vários usuários se perguntassem sobre a compatibilidade de todos os aplicativos que já existem para o macOS. Afinal, grandes transições de arquiteturas nem sempre são fáceis — embora a Apple saiba bem como lidar com isso, já que essa não é a primeira vez que a empresa muda a arquitetura de seus computadores.
No caso dos Macs M1, existem três cenários diferentes para os aplicativos. São eles: apps nativos, apps executados por meio do Rosetta 2 e apps de iOS. Para um aplicativo aproveitar tudo o que o chip M1 oferece, ele precisa ser atualizado com suporte nativo ao Apple Silicon.
A Apple ofereceu ferramentas para desenvolvedores trabalharem em atualizações de seus apps com antecedência e isso permitiu que vários dos principais apps de macOS já fossem atualizados logo no lançamento dos Macs M1. Apps como o Google Chrome, Final Cut Pro, Microsoft Office, Photoshop e Lightroom são alguns exemplos dos que já rodam nativamente na arquitetura ARM.
Isso não quer dizer que outros aplicativos não podem ser instalados e executados nos Macs com chip M1. Assim como na transição dos processadores PowerPC para Intel, a Apple criou uma tecnologia chamada “Rosetta 2” que traduz os apps compilados para processadores Intel de forma que funcionem na plataforma Apple Silicon.
A mágica do Rosetta 2 é que tudo funciona de modo invisível para o usuário. Ao tentar executar pela primeira vez um app que ainda não foi atualizado com suporte nativo ao chip M1, o macOS pergunta se o usuário deseja instalar o Rosetta 2 para rodar aplicativos feitos para Intel. De todos os apps que tenho instalados no Mac, são poucos os que ainda dependem do Rosetta 2.
Quando recebi o MacBook Air M1, a Adobe ainda não havia lançado uma versão do Photoshop com suporte ao Apple Silicon. Foi possível instalar e usar a versão Intel do Photoshop com o Rosetta 2 e o programa funcionou razoavelmente bem, embora eu tenha enfrentado alguns erros com determinados recursos.
O desempenho ao executar um app pelo Rosetta 2 é menor se comparado aos apps que rodam nativamente no chip M1, porém não é ruim. Apps menos complexos que ainda não possuem versão para o M1 costumam rodar sem problemas. Curiosamente, o único aplicativo que não rodou no MacBook Air M1 mesmo com o Rosetta 2 instalado foi o do banco Itaú.
Há ainda uma terceira opção para instalar aplicativos nos Macs com chip Apple Silicon que é a instalação de apps do iOS. Como o chip M1 é baseado na mesma arquitetura dos chips de iPhone e iPad, o Mac agora é capaz de rodar os aplicativos desenvolvidos para iOS sem qualquer modificação. Só que, por trás dessa novidade, existem vários poréns.
Na teoria, os Macs com Apple Silicon podem rodar qualquer aplicativo de iOS que esteja disponível na App Store. Na prática, as coisas são bem mais limitadas. Para começar, o desenvolvedor deve optar se quer ou não que seu aplicativo de iPhone ou iPad possa ser executado no Mac e, infelizmente, vários apps populares não podem ser instalados no macOS.
Ao procurar por Facebook, Instagram, YouTube, Netflix, TikTok ou WhatsApp na App Store do Mac, nenhum resultado aparece. Dos apps que mais uso no iPhone e iPad, encontrei apenas alguns poucos disponíveis na Mac App Store, como os jogos Crossy Road, Among Us e Sky: Children of the Light, além de apps como PacoteVício e DirecTV GO.
A experiência de executar um app de iOS no Mac varia muito entre cada aplicativo. Isso porque, quanto mais aquele aplicativo foi pensado para o iPad, melhor ele rodará no sistema macOS. O PacoteVício, por exemplo, quase parece um app nativo — funciona com gestos do trackpad e pode ser redimensionado livremente.
Se um app não suporta os recursos de multitarefa do iPadOS, só é possível visualizá-lo na proporção de um iPad. O DirecTV GO é um app que não tem como ser redimensionado e, ao colocá-lo em tela cheia, o vídeo fica com bordas pretas nas laterais. Além disso, o app também depende de uma simulação de toques para a navegação funcionar corretamente, o que atrapalha ainda mais a experiência.
No caso dos jogos de iOS, é possível aproveitar melhor aqueles que suportam joysticks. Embora seja possível instalar o Among Us de iPad no Mac, não há suporte para controles por meio do teclado ou joysticks — é preciso usar o mouse para simular os toques na tela. Já o Sky: Children of the Light, apesar de não abrir em tela cheia, suporta joysticks e rodou muito bem no Mac com um controle de PlayStation 4 conectado.
A verdade é que eu acabo quase nem usando esses apps de iOS no Mac já que vários deles não foram otimizados para funcionarem como programas de computador e os apps que talvez seriam mais interessantes de se ter no Mac, como é o caso dos apps de redes sociais, não estão disponíveis na Mac App Store por decisão dos próprios desenvolvedores.
Claro que as coisas podem mudar no futuro, até porque a Apple oferece ferramentas para que os desenvolvedores aprimorem seus apps de iOS de modo que funcionem corretamente no Mac, mas no momento essa possibilidade de rodar apps de iOS no Mac acaba sendo mais uma prova de conceito do que qualquer outra coisa.
Conectividade limitada
Talvez este seja um dos poucos pontos negativos dos Macs com chip M1, mas que deve atrapalhar apenas alguns usuários mais exigentes. Com exceção do Mac mini, tanto o MacBook Pro quanto o MacBook Air com chip M1 só possuem duas conexões USB-C no padrão 4.0 com suporte ao Thunderbolt 3.
Isso não chega a ser novidade já que o MacBook Air e o MacBook Pro de entrada da geração anterior também só tinham essas duas conexões, porém quem vem de um iMac ou de um dos modelos mais caros do MacBook Pro que conta com quatro portas Thunderbolt deve sentir falta de ter mais conexões disponíveis.
O fato das portas serem USB-C já não era problema para o meu fluxo de trabalho há muito tempo, considerando que tenho vários cabos, adaptadores e outros acessórios que utilizam esse padrão. Só que eu costumava usar todas as quatro portas do meu MacBook Pro, enquanto no MacBook Air eu só conto com metade delas.
Normalmente eu uso meu Mac conectado a um monitor externo e também ligado na tomada. Com isso eu já ocupo as duas portas USB-C do computador. Para ligar algum outro acessório como um HD externo, preciso antes desconectar o computador da tomada ou tirá-lo do monitor do externo — e isso é um tanto incômodo.
Acredito que isso nem chega a ser um enorme problema para os usuários comuns já que o público-alvo principal do MacBook Air não costuma usar um monitor externo o tempo todo ou não passa o dia todo com o computador conectado à energia, até porque a bateria desse notebook é muito boa.
Outro ponto negativo para alguns usuários mais exigentes é que os MacBooks com chip M1 só suportam um único monitor externo. Embora a conexão Thunderbolt 3 ofereça até 40Gb/s de velocidade, o M1 só tem um controlador de vídeo. Isso significa que não dá para ligar dois ou três monitores no Mac ao mesmo tempo, como é possível nos Macs Intel. O M1 suporta apenas um monitor de resolução até 6K a 60Hz.
Por outro lado, esse Mac tem tudo o que há de melhor quando o assunto é conexão sem fio. Ele é compatível com redes Wi-Fi 6 de alta velocidade no padrão 802.11ax e oferece também Bluetooth 5.0 com baixo consumo de energia e o dobro de velocidade em relação ao Bluetooth 4.0. Para os saudosistas, a entrada para fones de ouvido continua presente.
Experiência multimídia
Não sou o tipo de pessoa que usa o notebook com frequência para assistir a filmes e séries, porém sei que muita gente faz isso. Em minha experiência, o MacBook Air se mostrou ser um ótimo dispositivo para consumir conteúdos multimídia. Além de todos os benefícios da tela Retina que já mencionei no início da análise, os alto-falantes embutidos do computador são muito bons.
Em outras gerações, os alto-falantes do MacBook Air eram notavelmente inferiores se comparados aos do MacBook Pro. Nessa geração, porém, o som embutido dos computadores é bastante satisfatório. O volume é alto e o áudio bem nítido, sem muitas distorções. Os graves não são tão presentes quanto nos alto-falantes do MacBook Pro, mas ainda sim estão acima da média de outros notebooks da mesma categoria.
É possível reproduzir conteúdos em Dolby Atmos, porém os efeitos não são tão perceptíveis por conta dos alto-falantes serem pequenos. No caso de serviços como Netflix e Apple TV+, os filmes e séries são reproduzidos em resolução 4K e HDR, quando disponíveis. Tudo isso em um notebook super leve e portátil que não esquenta no colo.
Enquanto a experiência de assistir a esses conteúdos é muito boa, a situação muda quando se fala de gravar conteúdos. Os microfones embutidos são bons e captam o áudio com clareza. Somando isso com a inexistência de ruídos de ventoinha, é possível usar o MacBook Air para gravar podcasts com boa qualidade. O problema está na câmera frontal do computador.
Estamos em 2021 e a Apple ainda não percebeu a importância que as câmeras de computadores têm. Mesmo diante da pandemia de COVID-19 que obrigou o mundo todo a trabalhar de casa por meio de videoconferência, a empresa parece negligenciar o fato de que as câmeras embutidas nos Macs são ruins. O sensor utilizado no MacBook Air tem resolução de 720p, que é basicamente a mesma da câmera frontal do iPhone 5.
Segundo a Apple, o processamento de imagem do chip M1 é o mesmo utilizado nos iPhones e iPads mais novos, o que teoricamente garante uma imagem melhor. De fato, a câmera do MacBook Air M1 consegue registrar imagens melhores, porém a qualidade ainda deixa a desejar por conta da baixa resolução. Em ambientes com pouca luz, a imagem fica com um efeito aquarela por conta da falta de detalhes.
Sim, existe uma limitação técnica para a Apple utilizar tal sensor. A tampa dos MacBooks é tão fina que não cabe ali uma câmera melhor. Só que, neste caso, a empresa deveria priorizar a qualidade desse componente acima de qualquer decisão de design. Tenho certeza que muitos usuários iriam preferir que o notebook ganhasse alguns milímetros de espessura a mais em troca de uma câmera melhor.
macOS Big Sur
Por fim, o que faz um Mac ser um Mac é o sistema operacional macOS. Todos os Macs com chip M1 já vêm com o macOS Big Sur instalado de fábrica, que é a versão mais recente do sistema da Apple para computadores. O macOS Big Sur foi completamente redesenhado e está mais próximo do iOS.
A interface com mais transparência e cores vibrantes pode assustar no início, mas pelo menos a nova aparência do macOS conversa melhor com o sistema encontrado no iPhone e iPad. Um exemplo disso é a Central de Controle, que finalmente chegou ao Mac com atalhos para conexões de rede sem fio, brilho da tela e reprodução de mídias.
A Central de Notificações também foi repaginada com elementos do iOS, o que inclui os novos widgets que estão presentes no iOS 14. Inclusive, ao instalar no macOS Big Sur um app de iOS que ofereça widgets, esses widgets podem ser usados no computador.
A Apple continua apostando em apps Catalyst, que são versões portadas do iOS para o Mac. Com o macOS Big Sur, um dos apps do sistema que foi transformado em Catalyst é o Mensagens — que agora conta com os mesmos efeitos de tela, busca avançada, adesivos e Memojis que estão disponíveis no app de iOS.
A privacidade, um ponto forte dos sistemas operacionais da Apple, foi reforçada no macOS Big Sur. O usuário agora encontra informações detalhadas sobre os dados pessoais que cada aplicativo disponível na App Store consegue acessar. A nova versão do Safari conta com opções para impedir que sites rastreiem o usuário e traz também um relatório de privacidade sobre cada site acessado.
Também não tem como falar de macOS sem destacar a comunicação entre outros dispositivos da Apple. Para quem já usa um iPhone ou iPad, o Mac fica ainda mais interessante. É possível atender ligações e responder mensagens de texto do iPhone pelo computador, trocar arquivos rapidamente por meio do AirDrop e desbloquear o Mac automaticamente por meio do Apple Watch.
As versões iniciais do macOS Big Sur tinham alguns problemas incômodos. Certos aplicativos fechavam sem motivo e o computador era reiniciado inesperadamente. Nos Macs M1, um problema causado pelo sistema operacional fez com que muitos usuários tivessem problemas ao emparelhar dispositivos Bluetooth ao computador.
Felizmente, vários desses problemas foram corrigidos e a perfomance do macOS Big Sur nos Macs com chip M1 é bem satisfatória. O sistema não é imune aos problemas, mas a Apple costuma liberar atualizações mensais para corrigir os erros e também aprimorar a segurança de tudo.
Vale a pena?
Sim, vale a comprar o novo MacBook Air com chip M1. As melhorias foram tantas que, mesmo custando caro, a relação de custo e benefício desse MacBook ainda é muito boa se comparado a outras opções do mercado com preços similares.
Há um enorme estigma quanto a produtos de “primeira geração” porque geralmente eles deixam aquela sensação de que está faltando algo e que a experiência ainda não é lá essas coisas. Só que, com o chip M1, a primeira geração já provou trazer muito mais benefícios do que novos problemas.
O MacBook Air M1 não é perfeito. Ele não tem um design revolucionário, não tem tanta flexibilidade no quesito de conexões e eventualmente alguns apps não serão compatíveis com o novo processador. Só que, no geral, os benefícios são muito maiores.
O chip M1 representa o início de uma revolução no mercado de computadores — que estava estagnado há muitos anos. Ele abre portas para computadores que são mais compactos e ao mesmo tempo muito mais potentes e eficientes. É a mudança necessária para tornar os computadores interessantes novamente.
Seja você um usuário que só precisa do básico ou alguém que vai usar o computador para trabalhos mais intensos, o MacBook Air M1 dá conta do recado. É incrível ver um notebook tão fino e sem qualquer sistema de refrigeração executar vários apps ao mesmo tempo, abrir jogos sem dificuldade e até mesmo rodar outro sistema operacional virtualizado sem perdas de desempenho e sem pegar fogo.
Mesmo diante dos pontos negativos que citei sobre o MacBook Air M1, eu simplesmente não consigo mais me ver usando meu Mac Intel. Qualquer computador que não ligue instantaneamente, que faça barulho, que não tenha bateria suficiente para o dia todo ou que demore mais de alguns segundos para abrir apps e executar as tarefas parece ser obsoleto depois de ter contato com o M1.
É impossível não imaginar que as futuras gerações de Macs com chip Apple Silicon serão ainda melhores. Mas se você precisa de um computador com uma boa construção e pronto para tudo ou simplesmente se cansou de ter um Mac que quase levanta vôo para executar tarefas mais pesadas, o MacBook Air M1 não desaponta.
No Brasil, o MacBook Air M1 é vendido por preços a partir de R$12.999, porém é possível encontrá-lo a preços menores no varejo.